terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O que faz da passagem de ano um dia pior que os outros

Não me lembro da última passagem de ano em que realmente me diverti. Existe sempre a obrigação latente da diversão generalizada, facto que não contribui para que o indivíduo se solte.
Longe estão os tempos em que a inocência da adolescência compelia um grupo considerável de indivíduos que alugavam uma casa, a fazer uma fogueira no meio da sala com partes arrancadas dos móveis.
Lembro-me vagamente de uma passagem de ano em que estava um tipo na casa de banho a fazer o pino com a cabeça debaixo da água gelada da banheira (que como era normal, era cheia de gelo para refrescar as cervejas). Ou terá sido imaginação minha...
Muitos desses episódios surgem desfocados nas divisões mais sórdidas da mente e a sua veracidade é constantemente posta em causa por um complicado processo interno de rejeição.
As ressacas metálicas de dia 1 são um problema atroz. Grande maneira de começar um ano que todos desejam melhor que o anterior. No caso Português este desejo não é exactamente correcto uma vez que existe o paradigma que o próximo ano é que vai ser mau, sim este é que é o ano da crise, agora é que a crise se vai instalar definitivamente (nesse momento passa um BMW topo de gama por nós).
Nesta altura é também usual elaborarmos um Balanço anual dos acontecimentos mais importantes. Este processo estabelece uma relação deprimente com a pura análise contabilística, em que todos os momentos que mais significaram para nós e para o mundo são arrumados por rubricas e por ordem crescente de liquidez.
Por todas estas razões e por mais algumas este é um dia pior que os outros (ou será igual a tantos outros?).
P.M.
(Post Mortem)

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