terça-feira, 7 de julho de 2009

Crime imperfeito

A Velha do apartamento ao lado começou novamente a limpar a casa às 7 da Manhã. Como é meio surda e não tem noção do ruído que faz, acorda-nos frequentemente.
Sinto agora o desejo inexorável de a esperar na penumbra do vão da escada, e qual Raskolnikov pós-moderno, enterrar-lhe um machado na cabeça. A culpa deste homicídio hediondo deverá ser imputada ao vizinho do primeiro andar que grita frequentemente impropérios aos filhos e é tido como uma personagem tenebrosa.
O plano perfeito estava prestes a ser executado, mas nessa noite sonhei que estava a pôr em causa o equilíbrio cósmico de todo o prédio. Um distúrbio na linha do espaço contínuo do arrendamento urbano poderia provocar danos irreparáveis no tecido causal de toda a realidade.
Por isso nada fiz... A Velha deverá ser deixada em paz na solidão que a consome e o vizinho do primeiro andar, fuma agora à janela (em liberdade). Eu continuo a acordar às 7 da Manhã.

Estes são os desígnios do Universo.
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1 comentário:

Anónimo disse...

O perigo mora ao lado!