William Costa
segunda-feira, 30 de junho de 2008
O Festim Vegan
Ficou com os olhos tão brancos que pensei que ia morrer logo ali. Ainda me lembro bem. Não se pode levantar uma faca em direcção a ninguém, sem que as pessoas comecem logo a pensar que vão morrer.
Por acaso, só por acaso, a pessoa tinha razão; ia morrer. Só que teve azar. A faca não estava afiada, tinha a ponta das mais rombas do mundo, e, o que era para ser um corte limpo e rápido, uma morte certa, digna, tipo soldado romano, não! Nada disso. Transformou-se tudo numa asneira, daquelas do tamanho de um camião TIR atravessado. Espetei-lhe a faca várias vezes no corpo mas esta só fazia ricochete, até me aleijei na mão e tudo. De qualquer maneira acabou por morrer, ai isso é que morreu, mas só porque as pancadas foram tão fortes que lhe devo ter rebentado algum orgão vital, tipo fígado, ou baço, ou rins ou outra coisa qualquer. Só sei que as equimoses eram muitas. Os olhos também continuaram brancos… É incrível a alvura de um olho que sabe que vai morrer. Façam voçês mesmo a experiência e depois logo me dizem. É desmasiante. Antes de morrerem, é o branco do medo que se nota logo à partida, que é mesmo branco, digo-vos eu. Depois de morto, o cadáver, já só revela aquele branco baço de quem já não se importa com nada. Pudera! Deixaram de ter muito com que se preocupar..
Lembrei-me agora que tenho que atirar aquela faca p’ró lixo, acho que acordei um vizinho ou dois enquanto tentava furar a rapariga, é que ela não parava de gritar – a estúpida. A rapariga??? – Perguntam voçês em coro.
«Porquê uma rapariga?» - Gritam voçês todos escandalizados e em uníssono.
Bem! – respondo eu calmamente (que é uma das minhas características mais acentuadas) – Ela pisou-me o pé. «O pé?», sim o pé. «E então?» gritam voçês com violoncelos e trombones a atacarem por detrás. E então que ela pisou-me o pé e deslocou-me o dedo mindinho. «Oooohhhhh!!!!», já vos estou a ouvir todos estupefactos.
Pois claro caros amigos e irmãos, camaradas e visitantes da Festa do Avante. O dedo mindinho. E o que é que se faz a alguém que nos desloca brutalmente o dedo mindinho? Pergunto-vos? Mata-se! Mata-se logo, irmãos. O que é que voçês fariam se um dia destes, uma pessoa qualquer, no meio da rua vos pissasse o pé? O dedo mindinho ainda por cima? Matavam-na, certo? Estamos de acordo? Estamos.
Mas em verdade vos falo irmãos, esconder o corpo não é tarefa fácil. Há que ter aptidões próprias de um talhante. Destas partes não me lembro muito bem. Além de que várias serra manuais (também com as pontas rombas) foram usadas. Bom, sem vos querer chatear mais, digamos que a carne até ficou bem cortada. E ninguém nunca deu por nada. Sim irmãos, toda a gente achou que a carne foi exceletemente cortada. «O quê?», Estão a reclamar? Não percebo porquê. No dia do meu aniversário toda a gente comeu e ninguém se queixou.
Uncle Remus